“É cuidado, não afronta”: comunidade de Nova Palma acolhe mudanças do Ano Jubilar

“É cuidado, não afronta”: comunidade de Nova Palma acolhe mudanças do Ano Jubilar

Foto: Arquivo Pessoal

Interior da Capela Santa Cruz, cenário de fé e união mesmo com as novas restrições.

Ministra extraordinária da Eucaristia da Capela Santa Cruz e atuante nas lideranças da comunidade da Vila Cruz, no interior de Nova Palma, Simone Osmari Lago Pesamosca diz que as mudanças promovidas pela Arquidiocese de Santa Maria durante o Ano Jubilar foram bem recebidas por lá. Apesar de reconhecer opiniões contrárias, ela avalia que o impacto foi positivo.

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— Para nós, foi positivo. Claro, sempre considerando que houve os descontentes. Nós respeitamos e entendemos esse descontentamento, mas é um ano santo, tem que deixar bem claro. É um ano de graça.

Para Simone, o problema esteve principalmente na forma como o anúncio da suspensão de bebidas alcoólicas e bailes em festas católicas foi divulgado.

— No primeiro momento, foi um pouco polêmico, gerou conflitos internos. Só que infelizmente na época a mídia não noticiou como deveria, foi pego uma parte do discurso do nosso arcebispo e foi jogado na mídia. (...) A maneira como foi veiculada deu entender que não se podia mais absolutamente nada _ avalia.

Com o tempo, diz ela, o entendimento amadureceu. Simone enxerga a decisão da arquidiocese como um gesto de cuidado pastoral.

— Com o passar dos dias, com diálogo, com instruções, o pessoal foi entendendo, a gente também foi entendendo, que se trata de um ano santo, um ano muito importante para nós católicos. Eu avalio essa atitude como uma atitude de cuidado, que é justamente a missão que o nosso pastor dom Leomar tem, que é cuidar do seu rebanho. (...) Para muitos, é uma afronta, mas, na verdade não é. É um gesto profundo de zelo e é amor - acrescenta ela.

A ministra também destaca o momento atual como propício à introspecção:

— Nós estamos em um tempo repleto de ruídos. (...) Muitas das pessoas que a gente convive e vive, andam perdidos. (...) Esse ano é, justamente, para isso, é um ano de graça, de transformação, de oração, de silêncio, porque a humanidade está gemendo, está gritando.

Simone (à esq) fala microfone. Ao lado, orimeiro bispo brasileiro nomeado por papa Leão 14, Clésio Facco.Foto: Arquivo pessoal


Adaptação das festas

Pratos preparados pelas famílias: tradição culinária segue presente nas festas.Foto: Arquivo Pessoal


Na prática, as festas religiosas da Capela Santa Cruz seguem ocorrendo. A diferença está na ausência de bebida e baile. Comidas típicas e reencontros têm ocupado o espaço dos antigos bailes. Por lá, a comunidade realiza três festas religiosas ao longo do ano: em março, em honra a São José; em julho, ao Sagrado Coração de Jesus; e em novembro, a maior celebração, dedicada à padroeira Nossa Senhora da Saúde.

— Estamos seguindo exatamente o que foi proposto pela arquidiocese. As festas religiosas aconteceram, como sempre acontecem, sem a bebida alcoólica e sem a reunião dançante. Tem almoço, venda de doces, e durante a tarde, geralmente, as pessoas têm ficado conversando, se reencontrando. Para a festa do mês de novembro, nós estamos pensando em trazer alguma atração cultural. Explorar até os artistas da nossa comunidade, temos muita gente talentosa — relata Simone.

Em relação ao público, segundo ela, o número de participantes das festas não teve queda perceptível, e a arrecadação financeira também foi mantida:

— O público praticamente se manteve o mesmo. (...) Mas na igreja a gente viu que as pessoas, me parece, que em dia de festa estão participando mais. Inclusive, em termos financeiros, parece a mesma coisa (faturamento do ano passado).

Simone afirma que todos se envolvem nas festas e que a fé se mantém firme e mesmo os descontentes com a decisão, continuam frequentando o local:

— Toda a comunidade está sempre envolvida. É maravilhoso. (...) A fé eu acho que ela continua inabalável mesmo sem a bebida e assim que tem que ser. O descontentamento foi lá mais no início. Agora o pessoal já tá muito habituado — finaliza.


Ano Jubilar de 2025

A norma polêmica foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Arquidiocesano de Pastoral em 19 de outubro de 2024. À época, dom Leomar explicou que a decisão seguiu orientações do papa Francisco – falecido em abril deste ano – para o Jubileu da Esperança, um evento que marca os 2025 anos da era cristã e que, segundo bula papal Spes non confundit ("a esperança não engana"), convida os fiéis a viverem um período de espiritualidade, reconciliação e indulgências.

— O contexto é o grande Jubileu de 2025, quando nós celebraremos 2025 anos da era Cristã. Papa Francisco, numa bula chamada Spes non confundit, que quer dizer “a esperança não engana”, pede que o ano que vem seja o ano da esperança. Além disso, também tem o Jubileu, que vem com as indulgências e, para isso, o papa fez uma série de medidas. E nós, da arquidiocese, seguimos o papa, especialmente para que o povo possa entender esse momento histórico — explicou o arcebispo, em entrevista concedida em dezembro de 2024.

A decisão, no entanto, provocou repercussões já nas primeiras semanas. Vídeos gravados durante celebrações religiosas circularam nas redes sociais, em especial, trechos em que dom Leomar critica a realização de festas com “música bagaceira” e o consumo excessivo de álcool, por considerar que esse tipo de atividade não condiz com os valores da fé católica.

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Vitória Parise

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